Histórias de Uma Página Só
Tenho publicado histórias de ficção, memórias, divagações e até alguns ensaios de não prosa, tendo como única ordem a cronológica. A tentar pôr mais alguma ordem nisto, criei uma secção separada para as divagações, para a ficção e para as memórias. Nesta página inicial ficam só os tais ensaios de não prosa.
O amor está para a memória como a indiferença para o esquecimento.
O PRESENTE E AS LEMBRANÇAS
É agora que estou viva, sinto e penso e respiro
E esta sorte, esta dádiva, a que chamamos presente
É feito também de passado, dos dias que já não voltam
Das alegrias e das tristezas, do choro e das gargalhadas
Memórias reais e vividas de tudo o que aprendi e senti
Que fazem parte de mim e que moldaram quem sou
O presente é feito também do futuro, do desconhecido, de sonhos
Do que idealizo e desejo sem convicções nem certezas.
A vida ser agora não quer dizer que não existe mais nada
Não seria eu sem o passado nem se não sonhasse o futuro
Pensando que o melhor de mim ainda está para chegar
E é por isto a gratidão pela graça de viver o presente
Sem quase nada saber, mas em serena expectativa
Do futuro que me faz querer dar mais de mim cada dia.
A vida é mesmo um presente meio desembrulhado já
Uma surpresa constante desconhecer como vai ser amanhã
Faz parte desta magia saber que depende de mim
Apenas a minha atitude, nada mais está sob controlo
Só querer continuar e fazer de cada dia um bom dia
Guardando do passado tudo o que valeu a pena
Sonhando com um futuro de harmonia e de esperança
Para todos os que vou deixar quando o meu tempo acabar.
O que eu não quero é morrer sem ter dado tudo de mim
Não desejo deixar heranças, chega-me deixar as lembranças
A quem eu quis bem, o que eu sonho que fique de mim
Quando o meu caminho findar é apenas o Amor que soube dar
Esse é o rasto que ambiciono deixar também através do que escrevo
Gosto de imaginar que pude tocar com as palavras que escrevi
Pessoas que nem conheci e que esta é outra forma de dar
Aos outros um pouco de mim, talvez uma forma diferente de amar.
MUITO RISO E ALGUMA NOSTALGIA
Numa noite quente ao luar
O rio ali ao lado a brilhar
Íamos de braço dado
Depois de jantar
Para casa
A trocar piadas à toa
A não conter gargalhadas.
Queria falar e não conseguia
Tinha tanto para dizer
E só me doía a barriga
Da explosão de tanto rir.
Toda aquela proximidade
Uma cumplicidade tal
Já sobravam as palavras
Afinal.
Desejei parar o tempo
Como numa fotografia
Cristalizar o que sentia
Naquele preciso instante
E ficar ali para sempre
Era só isso que eu queria.
Mas o tempo não parou
E esse momento voou
Ficou só gravado em papel
Nas linhas que então escrevia.
Memórias
Feitas de prazer e de nostalgia
De um tempo que já passou
Ao que nunca poderei voltar
Mas que existe enquanto eu viver
Até o meu coração deixar de bater.
Amar é dar
Tudo o que não for isto
É complicar.
O que nos rodeia não nos pertence e é passageiro.
Só o Amor que sentimos é verdadeiramente nosso e eterno.
CONSCIÊNCIA
Uma coisa somos nós
O que nos vai na cabeça
O que sentimos
O que sonhamos
Pensamos e idealizamos.
Outra coisa é a vida
Quem connosco se cruza
O que aos outros chega de nós
O ambiente em que estamos.
Cheguei aqui e já sei
De mim depende só o que sou
E pouco do que os outros vêem.
Já só luto pelo que posso mudar
O resto ao universo pertence
Toda a gente que não sou eu
Pode ficar por perto
Pode ir embora.
Sinto o maior desapego agora
Não dependo de ti
Nem de ninguém
Tu só dependes de ti
Também.
Ninguém vai ao leme do todo
Para nos levar a bom porto.
Acorda que te vai trazer bem.
Quem não gosta do que escrevo
Não pode gostar de mim
Apenas porque tudo o que escrevo
Sou mesmo eu, do princípio até ao fim.
ACORDAR
Entre o sonho e o despertar
Tacteei à minha volta
Porque te queria abraçar
Acabei por acordar
Sem te poder encontrar.
Sabes que tens outra vida
Quando eu sonho contigo.
É na outra dimensão
Não é um simples lugar
É onde despimos a alma
Onde não há palavras
Onde o tempo não passa
Onde não envelhecemos.
Aí vive para sempre o Amor.
O AMOR APAIXONADO
O Amor, aquele que tu querias que eu explicasse, esse que ninguém sabe bem o que é.
Quanto mais intenso, mais desvairado.
Quanto mais se deseja mais se quer ser desejado.
Quanto mais nos damos mais à mercê ficamos.
É um susto tão bom.
É um medo do bem.
É muito complicado.
É querer sentir essa vertigem e ao mesmo tempo querer ficar sossegado.
O Amor, esse amor, é tramado.
Fácil é nem o provar, evitar, nunca arriscar.
Difícil é deixar-se perder.
Não ter medo de mergulhar mesmo que isso implique sofrer.
Isso é que é querer viver, em vez de passar por aqui apenas para sobreviver.
AMOR ÚLTIMO
Imagina o meu coração
Um gigante casarão
Com muitos quartos
Corredores em labirinto
Com cave e sótão e escadas
Recantos e até esconderijos.
Nele tu és o imenso salão
Com terraço e vista de mar
De todos os sítios da casa
É mesmo onde quero estar
A pensar, sonhar... divagar
É onde me solto e deixo ficar.
É o núcleo da minha paixão
O meu abrigo, o meu destino
É onde eu quero descansar.
O MUNDO SONHADO E PENSADO
O mundo, amanhã, o mundo em que vivo,
Vai estar melhor do que hoje e,
No dia seguinte melhor,
E assim sucessivamente.
Tiro dos sonhos e da lucidez, tudo,
Para que seja assim.
Acordei vinda de um sonho
Que traz para este lado aquilo que não existe.
Quando voltar a adormecer,
Levo para o mundo dos sonhos
Mais um bocadinho, deste lado
E tudo isto é verdade,
O que penso e o que sinto.
O meu tempo vai sendo melhor cada dia e cada noite.
Por mais caótico que seja o mundo,
Por mais consciência que eu tenha disso,
O meu mundo interior vai sendo sempre melhor.
Não é por acaso.
É porque faço por isso.
Assim sou melhor também para os outros.
E os que estão perto sentem.
E tu estás muito perto de mim,
Sempre,
Mesmo quando estás ausente,
E por isso sentes também.
OS MANIPULADOS
Os manipulados
Não sabem
Que estão manipulados.
Caso contrário
Como creio ser fácil entender,
Tanto pelos adormecidos
Como pelos acordados,
Não estariam manipulados.
Só não estão manipulados
Os que baseiam a sua visão
Não no que lhes foi contado
Pelos jornais e televisão
Mas sim no que foi estudado,
E pesquisado por si só.
Na absoluta solidão.
Só temos um espírito livre, assim:
Procurando aprender todos os dias.
Encarando a descoberta
Dos nossos erros
De que fomos enganados
Como evolução interior.
Como horizontes rasgados.
Porque é só isso.
A razão pura não serve
Rigorosamente para nada.
Ficarmos agarrados
Às nossas convicções
Às nossas ideias fixas
É morrermos em vida.
MAIS UM SONHO TEU
Esta noite sonhei que te reencontrei
Não sei se isto se passava nesta vida
Numa vida futura ou numa vida passada.
Sei que demos um longo abraço
No mais sentido silêncio, apertado.
E quando eu pensava que tinha acabado
Tu apertaste-me mais ainda
Ainda em silêncio... e eu acordei.
Mergulhada num mar de bem estar
Onde já só havia a memória viva
Do que podia ter sido e não foi.
Mas foi algo tão intenso
Sem limite entre o espírito e o carnal
Que fico a pensar que esse abraço foi real.
E que um dia nos fundiremos nele...
Afinal.
SOU AVÓ
O Amor pode ser avassalador.
De nos tirar o fôlego
De nos fugir o equilíbrio
O discernimento ou
Qualquer réstia de razão.
Estou a viver dias assim
Afogada numa onda de amor
Que chega por todos os lados
Alguns do mais inesperados
Desde que anunciei que sou Avó.
Mensagens privadas que recebo
No Instagram, no Messenger, no Whatsapp
Carregadas de corações
Nunca tinha visto a nu
Tanta demonstração de emoções.
É verdade. Estou afogada.
De felicidade e gratidão.
A todos os que aqui chegaram,
Deixo o meu agradecimento comum,
Não vá individualmente,
Ter-me escapado algum.
VELHO AMOR QUE ME SEDUZ
Somos como duas peças
Já muito usadas e gastas
Mais ou menos avariadas
Que a passar por quase tudo
Melhoraram quase nada.
Continuamos a encaixar
Surpreendentemente bem
Mas só quando nos apetece
Sem hora marcada.
Quando temos vontade
Na base do improviso
e com total liberdade.
Tudo o que pesa e chateia
Está fora da engrenagem
Já sabemos o que não queremos
E o que nunca vai funcionar.
Andámos pela vida à toa
Sem saber para onde íamos
Carregando cicatrizes
De décadas de tentativas
De encontrar o bom caminho.
Acabamos por ser uma luz
Que nos guia e nos sossega
Às vezes somos o reflexo do outro
Outras, a estrela que nos conduz.
A VIDA É SÓ O ESPÍRITO LIVRE
A vida é o espírito que brilha dentro de cada um
A que alguns chamam alma e outros chamam coração.
Não é o corpo, o invólucro onde andamos metidos
Que nos serve apenas para que os outros nos vejam
E que com sorte alguns nos possam sentir.
Viver é também ser fiel ao que se sente e se pensa
Exprimir e dizer bem alto o que se transporta dentro
Sem medo do que outros possam pensar, dizer ou fazer.
A liberdade de espírito é não ter medo de nada
Daí que muitos a confundam com loucura.
Um espírito livre nada pode perder nesta passagem
Por isso vive intensamente e com paixão
Tantos os sonhos como o momento presente
Tanto fisicamente como na outra dimensão.
NEGACIONISTA ASSUMIDA
Nunca fui tão velha
E menos bonita do que agora
Nunca tive tão grande desapego
Ao que parece
E aos bens materiais
Nunca estive tão encontrada
E motivada por uma causa
Apesar de tanta luta por fazer
Apesar de não saber
Quase nada
Sei que estou no meu caminho
Porque nunca me senti assim
Tão feliz por estar aqui
Tão empenhada
Pela própria vida
E pela Humanidade
Que como um todo é
Ignorante
Iludida
Imatura
Impotente
Incapaz
Incompetente
Inconsciente
Sob o controlo dos iluminados
Que estudaram
E que sabiam que ia ser assim
Só não conseguiram prever
O poder dos negacionistas
E o bater o pé de milhões
Que já ecoa no planeta
E por esse universo fora
E que aumenta de dia para dia
E que já é impossível parar.
ANJO DA GUARDA
Esta tão velha amizade
Que teimo sentir por ti
Como está neste momento
Se melhorar
Só se pode estragar.
Não há nada a mudar
Muitos menos inventar
É só deixar ficar assim
Assim está muito bem
E vai durar para sempre.
Finalmente
Não quero ser tua namorada
Nem nada que se pareça com isso
Quero ser só tua cúmplice
A tua confidente habitual
Partilhar gargalhadas
Quando calhar
E bons momentos
E prazeres
Quando tivermos tempo
E vontade
E nada mais.
Levanta as mãos para o céu
Porque agora o meu papel
É ser o teu anjo da guarda.
Com o que eu sou e sinto
É o que me encaixa melhor
E estou a dizer a verdade.
Podes rir à vontade
Até parece que te estou a ouvir
Isto já faz parte do plano.
Eu não sou um anjo chato
Sou um anjo que até é pecador
Mas que peca só por amor.
Se fores diferente estás tramado
Não te enquadras, és anormal.
És criminoso ou então doente
Vais parar à prisão ou ao hospital.
Todos parecidos, todos iguais
É a apologia da nova ordem global.
Pensar e sentir da mesma maneira
Agir e reagir em modo convencional.
Mas quem no seu juízo perfeito
Ambiciona ser mais um normal?
A sabedoria fui buscá-la
Aos erros que cometi
A alegria aprendi-a
Com a tristeza que já vivi.
AMOR PRÓPRIO
Estava tão perto de ti que não te via,
Só quando saí dali soube quem eras,
E percebi que não eras energia.
Era a minha paixão cega
Que ambos aquecia,
Mas só a mim me consumia.
Renasci depois das minhas cinzas,
Quase frias,
Quando descobri que afinal,
A chama era eu que dentro a tinha,
E continuava quente e a brilhar,
Mesmo sozinha.
PAZ DE ESPÍRITO
Valorizo apenas aquilo que existe.
Que é tudo o que depende de mim.
O que penso e o que sinto.
Tudo o que faço
O melhor que sei.
E deixo o resto do mundo fluir.
MANIFESTO
Não sei ser indiferente
Ficar entre cá e lá
Indecisa na ombreira da porta
Sem saber se vou ou se fico.
Prefiro errar a não fazer nada
Não sei ficar sossegada
Nem quero ser anestesiada.
Gosto de me pôr e aos demais
À prova
Forçar a descoberta e saber
Se gostamos uns dos outros
Ou não.
Cansei-me
De tudo o que é mais ou menos
Assim assim
Do não aquece nem arrefece.
A vida é muito curta
Para a gastar alheada
Quero ir com a força toda
A dar tudo cada dia
No amor
Nos sonhos
Nas causas
Nas lutas pelo que acredito.
Quero gargalhadas e lágrimas
Prescindo dos meios sorrisos
E de não sentir quase nada.
Que me julguem
Louca ou excessiva
Pouco me importa
Aliás
Não me rala mesmo nada.
Quero sentir-me viva
Por fora e por dentro
E estar bem acordada
A pensar e sentir demais.
Viver meio adormecida não é nada
Quero estar sempre alerta e inquieta
No perigo constante e iminente
De quem só sabe estar apaixonada.
MORTE
Morri ontem, de repente
Ninguém esperava nem eu
Um choque para toda a gente.
Tantos tão consternados
A dizerem e a escreverem
Tanta coisa tão bonita
Que eu nunca soube que havia.
E não os posso criticar
Eu passei a vida a poupar
Nos afetos e na doçura
Como se se pudesse acabar.
E agora?
O que é que eu faço com o amor?
Que não soube dar nem receber?
Nunca me soube ajeitar
Julguei sem pensar que a vida era para sempre
E andei feito parvo a poupar
Beijos e abraços e todas as palavras
Que os que ali estão agora queriam ouvir.
E agora estou morto!
Oiço-os dizer que sou mais um estrela no céu a brilhar
Que poético mas porra, eu quero mesmo é voltar!
Eu não quero estar no céu de ninguém a brilhar.
Eu quero ir para o pé deles, quero poder abraçar.
E dizer-lhes todo o amor que senti
E que por medo calei como se falado se gastasse.
Eu não quero ser uma estrela a brilhar.
Eu quero voltar acima de tudo para te amar
A ti que estás aí nesse canto escondida a chorar
Para te dar tudo o que por cobardia e medo
Tinha cá dentro mas quis calar e guardar.
Eu quero o aconchego do teu calor
Quero a luz do teu sorriso
que brilha mais do que o sol
Eu não sou nenhuma estrela
Eu sou o teu amor que morreu
E que nunca te soube amar.
VIDA
Há vezes em que gostava tanto
De saber viver mais ou menos
Meio atenta meio distraída
Tão acordada como adormecida.
É mais confortável deixar-me estar sossegada
Indiferente ao espaço quase anestesiada
Onde vim parar por acaso e sem saber
Por mera conjugação de moléculas e átomos.
Mas se assim fosse perdia a explosão da alegria
Não conhecia o êxtase do prazer
Nem a angústia e a imensa dor
De que também é feita a vida.
Acordo todos os dias na expectativa
A contar que o novo dia traga uma surpresa
À experiência de estar viva
Neste mundo de constante descoberta.
A minha existência parece valer tão pouco
Mas afinal é tudo porque não tenho mais nada
E ela só depende de mim
Do que está ao alcance da minha vontade.
A vida vale tudo ou vale nada
Depende só da minha atitude
De ser alguém que se deixa levar na multidão
Ou que arrisca ir ao compasso do seu coração.
Sem medo que se possa partir
Sem medo de questionar ou duvidar
Não vim para deixar o tempo passar
Vim para vivê-lo inteiro e por dentro.
Estar viva se calhar é amar
E se o coração se quebrar poder chorar
E depois renascer e reencontrar-me
Numa diferente paixão por estrear.
Uma nova razão de viver
Não tem de ser alguém
Pode ser uma causa ou um sonho
Uma esperança ou um desafio.
Não sei o que sou capaz de dar
Mas sei o que tenho recebido
Dos outros de tantos outros
Que dão a luz à minha vida.
Não sou uma passageira
Num combóio desenfreado à espera da minha estação
Não sei para onde vou nem sequer de onde vim
o meu bilhete diz só "Amor" e essa é a minha razão.
Se deixar uma réstia de bem
À vida dos que cá ficarem
Já dei sentido à minha jornada
E já posso morrer descansada.
SER LIVRE É PODER DAR À VONTADE
Ser livre é saber respeitar os outros
Como respeito a própria liberdade.
Por mais livre que seja o pensamento
Sei bem que ninguém é independente.
Tomo um banho diário de humildade
Porque o que sou e tenho na vida
É graças ao esforço de muita gente.
Ser livre é não ter medo de ninguém.
Mesmo que me julguem tão ridícula
Por trazer muito à tona a minha alma.
E tantas vezes ser incompreendida
Por andar nua, tão despida de camadas.
Ser livre é poder dizer o que penso.
Por isso escrevo sobre o que sinto,
O que mais me alegra ou comove.
Escrever é mesmo o melhor de mim,
E é tudo o que eu tenho para te dar.
A fonte da infelicidade
No amor apaixonado
É a procura da verdade
Diferente em cada lado.
QUERO-TE
Eu não te quero escrever,
As palavras não são nada.
O que eu quero é abraçar-te.
Quero-te na minha pele
E que nos fuja a razão.
E depois podes falar.
Dizer o que te apetecer.
Eu só te quero ouvir
Porque, da minha parte,
Nada ficou por dizer.
Eu não te quero escrever.
Não sei.
Se será por ter o ouvido apurado.
Por ouvir música constantemente,
E dela ser tão dependente.
Para ter ânimo e força,
Para me sentir sempre bem.
Do que gosto mais em ti
É de ouvir a tua voz.
Mesmo quando te exaltas, te passas.
Quando não concordas comigo,
Quando te falta a paciência.
Para os meus devaneios
Para os meus desatinos.
Quando me chamas louca
Quando me deixas sozinha.
Por ser atenta, chata,
Insuportável, do contra.
Mas também te faço rir.
Outra coisa de que gosto,
A tua gargalhada sonora
Descontrolada e pura.
Tal como me faz falta a música, cada dia
Faz-me falta o teu som, na minha vida.
Não gosto do teu silêncio.
Parece-me o vazio infinito,
Que temos, garantido,
Mas quanto mais tarde melhor.
Até lá, sempre que te apetecer,
Fala comigo. Nunca te esqueças,
Do meu imenso gosto em te ouvir.
Mesmo zangado, mesmo com queixas.
Podes falar, rir, gritar ou chorar.
Já me basta não te ver,
E não te poder abraçar.
Já me sobra demais a pena,
De tão pouco podermos partilhar.
Apesar disso, és quem mais me conhece
As contradições, as fraquezas e tristezas.
E gosto muito que gostes de mim,
Que sejas meu Amigo, mesmo assim.
Isso é das poucas coisas que eu sei.
O SONHO DA TUA VOZ
Acordei vinda de um sonho.
Estava a ouvir a tua voz.
Tão claramente, tão bem.
Nos sonhos nunca ouvi música,
Nunca ouvi a voz de ninguém.
Hoje, já tão tarde na vida,
Soube que os sonhos podem ter som.
Graças às saudades da tua voz,
Ao quanto a gostava de ouvir.
Não me lembro o que me disseste.
Estava só como que encantada,
a ouvir a tua voz e o teu riso.
Como quem ouve uma melodia
E se deixa embalar, distraída.
Vou dormir. Fechar os olhos.
Para te encontrar num sonho.
Quero ouvir a tua voz, outra vez,
Nem que seja só um instante.
Parar o momento e fazê-lo infinito.
Vou entender o que me querias dizer.
Ao amanhecer não vai ser esquecimento.
Vou saber de cor a letra da tua voz.
E vai ficar sempre comigo.
Tal como soa agora cá dentro,
Tão real e tão vivo,
O sonho da tua voz.
Tudo o que está vivo, muda.
Como as árvores,
Em cada estação.
Mantêm as suas raízes.
Deixam cair a folhagem,
Ficam despidas e nuas.
Depois reinventam-se.
Com o abraço do sol
E a alegria do seu calor,
Florescem, renovadas.
Se é graças às raízes ou ao sol,
Pouco importa.
O que importa é a vida,
E renascer cada dia.
Tudo o que parece ser,
Não passa de uma miragem.
Somos só o que sentimos
E as emoções que provocamos.
Não somos a imagem que damos,
Nem sequer o que julgamos ser.
Isso é tudo pura ilusão.
Somos o que temos para dar.
E, num equilíbrio perfeito,
Saberemos também receber.
O ego é tal e qual um balão.
Quando está cheio fecha-se,
Não entra mais nada nem sai.
Ocupa espaço, fica inchado,
A rebentar de coisa nenhuma.
UM AMOR INVENTADO
Existem em mim três Mundos: o Presente, o Passado e o Imaginado.
Os três são igualmente reais, feitos de vida e da verdade que sinto.
Desregrados, misturam-se, lutam e não sabem estar sossegados.
Sem separações nem fronteiras, nunca sei ao certo em qual deles estou.
O meu preferido é o Imaginado, onde tu vives, sempre ao meu lado,
É nele que não existem limites, tudo é possível, e inesperado.
No Mundo Passado és uma cada vez mais distante memória,
É nele que eu gosto de estar para escrever qualquer história.
No Mundo Presente és a pena da saudade e trazes-me melancolia,
É nele onde venho aterrar para depois me voltar a inspirar.
Voas nos meus três mundos e és a melhor das companhias.
Vives sempre no meu coração e, se calhar, nem sabias.
HUMANOS
Somos o que pensamos e sentimos,
O que dizemos e calamos.
Somos o que desejamos dar
E o que preferimos guardar.
Somos o que recordamos
E o que queremos esquecer.
Somos ilusões e sonhos
E o que deixamos morrer.
Somos a urgência de viver
E querer ficar sossegados.
Somos ainda o que parecemos,
A imagem que os outros vêem.
Ficamos reduzidos a quase nada,
Ao que escrevemos e outros lêem.
Também somos invisíveis,
Numa imensidão de gente,
Mais de sete mil milhões são assim.
Feitos de fragilidades
Mas de ombro sempre pronto,
Com inabalável coragem.
Cobertos de tantos medos
Mas sem falhar um abraço,
A um amigo ou a quem precisar.
Somos feitos de contradições,
Temos na esperança a miragem.
Somos quase nada e quase tudo,
Pouco interessa o que somos.
Somos um breve raio de luz e de amor
E é essa a nossa missão de vida,
O sentido desta etérea passagem.
Ter medo não é ser cobarde, é ser corajoso.
O cobarde finge, foge, mente e simula,
Só tem certezas, não sabe admitir que errou.
O corajoso enfrenta, fica, diz o que pensa,
Tem dúvidas que, sem hesitar, acumula,
Sabe dizer "não sei", assume que se enganou.
Um tépido calor inebriante
Que liberta a alma inteira
O Amor é o maior bem
Ao outro chega feito de luz
Que lhe ilumina o coração.
Se chega como um peso
Envolvido em escuridão
Não é o Amor que ali vem
É só uma prisão que produz
Mais frio e maior solidão.
Sei que vou amar-te enquanto viver
Vou ficar aqui em paz, perdida contigo
Não temas nada, não te vou prender.
Esta é uma dimensão sem tempo
E se por acaso existir espaço
É um espaço bem escondido
Uma espécie de porto de abrigo
Feito de memória e saudade
Feito de melancolia e alegria
Bem protegido pelo pensamento.
Pode chegar uma imensa emoção
Pode chegar um sonho sem fim
Pode chegar a noção de infinito
És sempre parte do meu coração.
Não quero mesmo escapar,
Deste evidente magnetismo,
Que persiste entre nós.
Muito mais constante que eu,
Às vezes tira-me o equilíbrio,
Fico sem saber o que dizer,
Muito menos o que fazer.
Será por puro egoísmo?
Por me dar tanto prazer,
Por me dar tanta luta,
Por não o saber dominar,
Por me fazer sentir tão viva,
Que não lhe quero escapar?
AMOR
Não morras nem me deixes morrer,
Sem me dizeres se me amaste.
Não quero saber se foi num ano,
Num mês, num dia ou num minuto.
Desde que tenhas sentido Amor,
Que tenha sido numa fração de segundo.
Mas não deixes de me dizer
Se me amaste naquele instante infinito.
Porque o Amor para ser eterno,
Precisa ser dito, ser conhecido.
Por isso te peço que não morras,
Nem me deixes morrer,
Sem me dizeres se me amaste,
Para que o teu Amor, se existiu
Não tenha sido em vão nem perdido.
Nunca digas nunca.
Nunca, além de ser um tempo infinito,
É um tempo cheio de nada.
Fica-te pelo quase nunca,
Quem sabe se nesse quase,
Encontras um tempo cheio de tudo,
Tudo aquilo que buscavas.
12 HÁBITOS DIÁRIOS QUE ME FAZEM BEM
Agradecer - Perto das árvores ou do mar.
Caminhar - Perto das árvores ou do mar.
Trabalhar - O mais bem feito que sei.
Conversar - De viva voz, com alguém de quem gosto.
Rir - A qualquer hora, muitas vezes de mim mesma.
Cozinhar - Sem pressas, muitas vezes a inventar.
Ouvir música - De manhã à noite, sempre que posso.
Cantar e Dançar - Sempre que posso também.
Ler livros - Um de cada vez e tendo sempre escolhido o seguinte.
Escrever - Sempre que posso e tenho vontade.
Sonhar - Acordada, e a dormir quando tenho sorte.
Meditar - 30 minutos, sem pensar em nada, a esvaziar a cabeça
SAUDADES DO AMANHÃ
Ás vezes tenho saudades tuas,
Mas sem nada de pieguice.
É só a memória viva do prazer,
Do gosto de estar contigo.
De rirmos e até chorarmos juntos
E de te beijar e abraçar a seguir.
Não são saudades pesadas e tristes,
Que temos de quem não pode voltar,
Saudades só feitas de perda infinita.
São saudades leves e de alegria,
Da certeza de te reencontrar um dia.
A vontade de te ver, ouvir e tocar.
Abandonar-me e deixar-me morrer,
Por fim, de amor, nos teus braços,
Até a um novo brilhante amanhecer.
O meu Amigo inventado,
Não envelhece, não tem idade.
Vive muito bem instalado,
Não me lembro há quanto tempo,
Dentro do meu coração.
Convicto e seguro de si,
Impôs assim que chegou:
"Despede-te da solidão
Que está a ocupar muito espaço!".
No âmago dos meus pensamentos,
Questiona, analisa e debate tudo,
Opiniões, ideias e sentimentos.
Não deixa que me leve a sério,
Conhece-me melhor que ninguém.
Não gosta da melancolia,
Muito menos da nostalgia,
Visitas que eu dantes tinha.
"Vais ficar triste com quê,
vais ter saudades de quem,
se eu vou ficar sempre aqui,
se eu só quero o teu bem?",
Diz-me cúmplice e sorridente,
O meu Amigo inventado.
ANTES DE MORRER
Se eu tiver a sorte de viver muitos anos ainda, se chegar a velhinha
Quero ser mais exigente comigo e mais tolerante com os outros
Quero ter liberdade para viver com mais tempo cada dia
Quero ter memória para recordar o Amor de que fui capaz
Quero continuar a escrever e nunca deixar de me emocionar
Quero ter o meu passado muito vivo mas bem arrumado
Quero só me arrepender do que eventualmente deixei por fazer
Quero sossego e gostar cada vez mais da minha companhia
Quero que o meu desejo seja paz, quero já não sentir medo de nada.
SE ISTO QUE NOS UNE NÃO É AMOR... NÃO ERA AMOR O QUE EU PROCURAVA
O vício nas nossas infinitas apaixonadas conversas,
Que vão até à exaustão, como numa busca interior.
A vontade de mergulhar e fundir no teu o meu olhar.
Querer derreter devagar no calor da tua pele
O desejo de te dar prazer e o gosto te fazer rir.
Descansar no silêncio dos sonhos, abraçados
O gozo na cumplicidade do tempo partilhado.
Faz parte do doce sabor que me deixas em cada despedida,
A imensa alegria no pensamento de te reencontrar um dia.
SONHO
O sonho é a parte infinita da vida,
Livre como a imaginação
Profundo como a emoção
Onde nos queremos perder
Para a verdade encontrar.
SABEDORIA
Preciosa é a sabedoria
Não se copia nem se pode ensinar
Não se vende nem se pode comprar
Cresce com o tempo e a vida.
Tem alicerces bem fundos
Na raiz do pensamento
No princípio da razão.
Floresce na contrariedade
Fortalece-se na frustração.
Se a soubermos hospedar
Dá-nos a paz, o bem estar
Sem pedir nada em troca
Sem nunca nos abandonar.
INTIMIDADE
Grande tentação e maior ilusão
Confundir sexo com intimidade
Intimidade é noutro patamar
Envolve nudez mas da alma
Despida de filtros e capas
À mercê da arrepiante carícia
De ter outra alma encontrada.
Intimidade é um porto seguro
É chegar e poder libertar
Fragilidades e dúvidas
Arrependimentos e erros
Sonhos e devaneios
Sem censura nem pudor
Sem medo de coisa nenhuma.
Intimidade é a solidão partilhada
Juntar num todo dois mundos
É viver só o presente
Sem âncoras do passado
Nem amarras do futuro
É mergulhar com alguém e perder o pé
No profundo e imenso mar da verdade.
Quando nascemos não sabemos nada
Vamos depois aprendendo
Chegando a certa altura a julgar
Que controlamos totalmente a jogada.
A seguir... amadurecemos
Percebemos o pouco que sabemos
Que estamos como nascemos
Mas conscientes de não saber nada.
À toa nascemos
À toa morremos
No intervalo
Saber dar e receber
Parece que é disso que se trata
Esta passagem.
AMOR-PERFEITO
Estar próximo é querer bem.
É entender o silêncio, o espaço e o tempo.
É dar liberdade, leveza e paz.
É estar sem ocupar
À distância de uma palavra, um abraço ou um olhar.
Sonho que te reencontro
E que te perco logo a seguir
No meio da multidão.
Sem tempo para te falar de amor
Nem fôlego para te pedir perdão.
SAUDADE
Memória viva
Desse passado
Sublimado
Em parte verdade
Em parte inventado.
Antes, ansiosamente esperado
Durante, intensamente gozado
Depois, infinitamente sonhado.
Nunca esquecido nem apagado
Sempre presente esse passado.
Certeza
Árida, perigosa e estanque armadilha
Onde nada cresce nem muda
Onde se apaga a curiosidade
Onde definha a sabedoria
Dúvida
Fecundo, revolto e infinito mar
Onde tudo se perde e encontra
Onde brilha o pensamento
Onde a evolução é constante.
Certeza é a morte, o destino.
Dúvida é a vida, o caminho.
O LUTO
Quando perdemos um Amor maior
Deixemos a dor entrar à vontade
E ficar connosco sem pressa,
Todo o tempo que precisar.
Tomar conta de nós e inundar-nos
Até sozinha secar
A perda, a zanga, a revolta, a tristeza, a angústia.
Quanto mais emulamos pouca dor sentir
Mais enraizada e profunda ela vai ficar.
Quanto mais lágrimas deixarmos cair
Menos difícil será voltar a aceitar
Que um fim é sempre um princípio.
Não existe noite sem depois amanhecer
Nem chuva sem a luz do sol a seguir.
Descobrimos então que a memória não morre
As partilhas passadas continuam intactas
Aconchegantes, felizes e brilhantes.
Sentimos saudades por ter sido tão bom.
E quando voltamos a sorrir ao recordar
Devolvemos a vida a quem nos deixou.
O luto acabou e o amor prevalece. Sempre.
ANGÚSTIA
Angústia é um buraco negro, sem fundo, que se abre no peito, com uma força centrípeta capaz de engolir tudo em seu redor.
É indivisível, feita de solidão, e não se apazigua pela partilha.
Eu sei que é assim mas, se assim não fosse, eu quereria carregar agora, além da que trago comigo, metade da tua também.
Foi tudo um sonho inventado
Vindo de um imenso passado.
Não dei por ele chegar
Mas tomou conta de mim.
É tempo de acordar
Ver o mundo outra vez
Sentir a vida em diante.
Sacar da realidade
Aquilo que não existe
O que não passou de ilusão
O que foi apenas vontade.
O sentido da Vida
É a felicidade escondida
Dentro do pensamento.
Para que não ande perdida
E não adormeça esquecida
Temos como inspiração
Os aromas que cheiramos
As doçuras que provamos
As melodias que ouvimos
As maravilhas que vemos
As carícias que sentimos.
As cinco janelas da mente,
As portas do coração.
ANO 55 QUASE A ACABAR
Foi um ano em que...
Conheci pessoas boas e outras das quais já me esqueci
Atei com mais força alguns laços que merecem a pena
Desatei alguns nós que deixaram de fazer sentido
Ri às gargalhadas e chorei que nem uma Madalena
Senti paixão e saudades
Amei e fui amada
Tive conversas filosóficas e parvas
Sonhei acordada e a dormir
Ouvi música todos os dias
Cantei a plenos pulmões sempre que pude e sozinha
Dancei sempre que foi possível
Assisti a séries magnificas, aqui sempre acompanhada
Vi filmes no cinema um dos hábitos que hei-de manter
Li alguns livros, menos do que gostaria.
Escrevi histórias sempre que tive inspiração e vontade
Morei numa casa onde adoro estar e receber quem me apetece
Fui trabalhar sempre com gosto
Gozei de uma saúde constante
Saboreei deliciosas iguarias e vinhos
Cozinhei os clássicos e inventei novos pratos
Nadei mar adentro
Passeei muito tempo na praia
Vivi o pôr do sol tantas vezes e o nascer do dia também
Saltei em queda livre pela primeira vez
Conheci a cidade maravilhosa e um pouco da Índia, que amei
Foi um ano em que não...
Perdi ninguém que amo e o mais importante vem sempre no fim.
Grata todos os dias.
24ABR2019
Quanto tempo?
de profundo amor e palpável perda
de sublime música e estridente ruído
de plena luz e nefasta escuridão
de absoluta certeza e maior dúvida
de alucinada viagem e sóbria ressaca
de verde esperança e triste verdade
de belos sonhos e dura realidade
de alegres sorrisos e séria melancolia
de quentes abraços e fria ausência
de ternos beijos e áspera saudade.
São
seguramente
muitos anos
a bater
com violenta e ritmada cadência
num já velho e usado coração.
E a isto chama-se vida.
Agradeço ao Ano Velho:
Ter uma casa onde morar
Cada dia sair para trabalhar
Paz para continuar a sonhar
Saúde para não ter de parar
O Amor e a Amizade
As gargalhadas e sorrisos
Os olhares e cumplicidades
Cada beijo e cada abraço.
A música e a vontade de cantar
Os livros e o impulso de escrever
Não parar de me deslumbrar
Em cada pôr de sol ou amanhecer.
Ano Novo... é só continuar!
24DEZ2018
O que é que eu desejo aos meus amigos em 2019? É muito simples:
Que sonhem sem medo nem limite
Que sejam amigos incondicionais
Que apostem na solidariedade
Que nunca temam a verdade
Que dêem esperança a alguém
Que apregoem bem alto a tolerância
Que gastem o tempo com atenção
Que olhem para o céu e para o mar
Que se deslumbrem com a natureza
Que tenham saúde suficiente
Para viverem cada dia com paixão.
Numa palavra, sabem o que eu vos desejo, não sabem? FELICIDADE.
21DEZ2018
Quando partilhamos:
A felicidade aumenta
A tristeza diminui
A solidão desaparece
O coração aguenta
O sentimento flui
A amizade acontece.
NOSSO DOM
Atraem-me as nossas diferenças
Com palavras sabermos debater
As ideias em todo o seu esplendor.
Atraem-me as nossas parecenças
Sem palavras podermos entender
A infinitude da amizade e do amor.
Se eu pudesse escolher um sonho...
Queria sonhar estar deitada ao teu lado.
Enroscar-me e derreter em ti sem pudor
Perder-me nesse imenso mar de aconchego
Do teu profundo olhar, da tua pele e calor
Sem medo, sem me importar onde chego.
Nessa doce ilusão de amor feito de esperança
Não restaria da minha solidão nem lembrança.
SOLIDÃO
Estar só é ter o infinito presente
É poder pensar, sonhar, divagar
É estar pleno, inteiro, consciente
E gozar o tempo a passar devagar
Solidão é sentir a angústia da vida a quebrar
É quando nos pesa o silêncio e dói a ausência
É quando não aguentamos e queremos parar
Por não acharmos em nós, da vida, a essência
Estar só é dominar a imensa liberdade
Poder sonhar, cantar e dançar à vontade
Ler, escrever, estar ali, aqui ou além
Sem dar ou dever explicações a ninguém
Solidão é uma dura e penosa prisão
Ficamos à espera que alguém apareça
Que nos solte dessa triste reclusão
E que depois nos mime, emocione e aqueça
Para que estar só não se converta em solidão
Basta que seja uma escolha e não uma obrigação.
DECLARAÇÃO
Todos os dias penso na morte.
Porquê? Por gostar tanto da vida.
Não são pensamentos mórbidos.
Muito pelo contrário.
É ter presente, sempre, a precariedade de tudo.
É dar valor a cada instante.
Não só não se repete o instante como cada vez nos sobram menos.
Assustador? Ainda bem!
Obriga-nos a reagir.
A fazer escolhas.
A arriscar.
A dizer tudo o que nos vai na Alma.
A não querer adiar nada.
Adiar para quando? Para o infinito?
Esse está garantido e cheio de nada ou de tudo...
Mas sem lugar para o que agora equacionamos deixar por fazer.
Essa é a única certeza.
O que não fizermos nesta vida vai-se perder.
Não vai acontecer.
Nunca.
Por isso deixa-me dizer-te já que te amo.
O SEGREDO DA VIDA
Dependem apenas de nós
As ideias que calámos ou dissemos
As memórias que guardámos
Os sentimentos que gerámos
O rasto que fomos deixando.
Dependem também de nós
Os livros que vamos ler ou reler
As músicas que vamos ouvir e cantar
As viagens que não vamos perder
E com quem desejamos partilhar.
Cada dia que passa é um dia a menos
Para perseguir os sonhos e para amar.
Cada dia que passa é um dia a mais
De experiência vivida e de sabedoria.
É assim a vida, vai passando sem se ver,
Dia após dia, gota a gota vai fluindo...
Fazer de cada dia um bom dia
É isso que não podemos esquecer.
É esse o segredo da vida.
BEIJOS
Beijo de reencontro, nervoso, atabalhoado e feliz
Beijo de despedida, doce, comovente quase triste
Beijo de amor, demorado, sentido e sonhado
Beijo de paixão, urgente, quente e molhado
Beijo sem sentimento, o do cumprimento formal...
um ou dois? ai que chatice, como é que vamos saber?
Beijo virtual, escrito ou falado, para apagar a distância e iludir a ausência
Beijo sem razão,
nem à chegada
nem à partida
de surpresa
de repente
vindo do nada...
É o meu beijo preferido
Podem até chamar-lhe beijinho
Não por ser diminuído ou pequenino
Pelo contrário, é imenso
É por onde consegue escapar
A profunda essência do carinho.
PODEMOS
Pensar no que amamos ou no que odiamos
Falar sobre o que nos inspira ou destilar desagrado
Agradecer o que temos ou lamentar o que falta
Ser atentos e amáveis ou distantes e grosseiros
Afinal somos nós que escolhemos, sempre,
se nos queremos sentir felizes ou miseráveis.
SONHOS
Inspiras-me sonhos onde tudo é caótico,
inesperado e sublime.
Onde nos fundimos perfeitamente.
De onde custa tanto partir,
embora permaneça um imenso prazer,
depois de acordar.
Desejo ardentemente a impossibilidade de voltar.
Depois deixo-me de novo sonhar,
já acordada, de olhos fechados ainda.
No aconchego dessas memórias,
cada vez mais difusas,
imagino sonhos por acontecer,
que podemos viver um dia.
Desejo, a todos os visitantes desta página, um Ano Novo... sem palavras, de tão bom!
E a fechar este que está a acabar, fica uma história numa quadra só:
Desconheço a palavra
Para dizer o que sinto.
O que cá dentro lavra
Calo fundo, senão minto.
29DEZ2017
Sobre mim
Vivo em Lisboa, onde nasci, em 1964.

O gosto por contar histórias trouxe-me até aqui. Tantas vezes ouvi a frase "tens que escrever um livro" enquanto contava uma história que acabei por ir escrevendo algumas. Parece-me que uma página destas faz mais sentido, agora. Um livro... logo se vê.
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